Esse texto estava suspenso.
Eu não ia escrever essa semana porque estou absolutamente enrolada com diversos compromissos profissionais e acadêmicos que têm tomado uma boa parcela do meu tempo de vida nos últimos dias. Mas, como eu sempre digo quando vou fazer exatamente o contrário do que disse que iria fazer: cá estamos nós.
Hoje não é a última sexta do mês – embora seja hoje, sexta, que você esteja lendo isso (ou seja hoje, na realidade, qualquer outro dia – esse negócio de tempo é realmente uma coisa muito doida). Hoje é a última quarta. Eu não gosto muito (odeio) quartas-feiras. O motivo é bastante simples: as coisas que dão errado na minha vida costumam sempre escolher as quartas-feiras para dar errado. Talvez eu atraia, né? Provavelmente sim, é o que dizem dez entre dez pessoas supersticiosas e que acreditam na lei geral da atração do universo. Eu não sei, ainda tô na dúvida (mas é porque sempre tô na dúvida mesmo, não tenho nada contra a lei geral da atração do universo ou pessoas supersticiosas que acreditam nela, até porque tô sempre super aí pra debates astrológicos, místicos e mágicos – só me chama).
Enfim. Eu não ia escrever essa semana, mas tô aqui pra dividir com vocês algo que aconteceu hoje – a última quarta do mês. E que tem acontecido muito. Não quero ficar enchendo com pormenores, mas, caso tenham interesse, a história toda mais detalhadinha tá aqui, nesse outro textão.
Renan errou o primeiro café que passou na última quarta. E aí precisou passar o segundo. “Quarta-feira”, eu disse pra mim mesma, em silêncio. Enquanto ele estava trocando o filtro da cafeteira, eu tinha uma certeza daquelas que podem ser escritas na pedra. Pensei comigo “esse menino vai esquecer a cafeteira ligada hoje”. Nah. Tô aqui só reproduzindo a primeira parte do pensamento, pra fingir que sou uma pessoa legal, mas a verdade é que o pensamento completo foi mais ou menos assim: “esse menino vai esquecer a cafeteira ligada hoje, eu tenho certeza – e eu vou ficar muito irritada, porque, poxa, eu fiz um TEXTÃO sobre isso e ele não vai pensar em desligar esse negócio. Eu poderia avisar, né? Não, me recuso. Ele precisa lembrar sozinho”.
Corta para o próximo pensamento catastrófico. Marta, já na moto, começa a se arrepender de ter feito aquele papelão e ter saído sem avisar. “Quando chegar no trabalho, vou mandar mensagem, porque eu vi aquelas imagens horrorosas no google quando pesquisei fotos de cafeteiras ligadas e vai que dessa vez ele esquece e o apartamento explode? Não dá pra brincar. É muito sério”. Cheguei no trabalho e não lembrei de mandar o aviso até seis e meia da tarde, quando, obviamente, não mais havia razão nenhuma de se mandar a dita mensagem – mas mandei mesmo assim. A resposta foi “hahahahaha acho que sim”. Renan é um otimista, sabe?
Só que não, namorado. Cheguei em casa, uma hora depois, e a cafeteira estava lá, plenamente ligada, no meio da escuridão do apartamento – que não tinha explodido, mas que poderia ter ido pelos ares. Pois bem. Eu ri, porque eu sabia que isso ia acontecer. Tive doze horas de certeza. E aí fiz um stories no Instagram, porque constranger Renan por causa dessas pequenezas é uma forma de evitar que cafeteiras ligadas desencadeiem brigas de esse-apartamento-poderia-ter-ido-pelos-ares-mas-não-foi-mas-poderia-ter-ido em looping infinito. Stories publicado. Uma das respostas que recebi foi da Kelly. Ela me disse “tamo junta irmã, conte comigo sempre” e emendou com um emoji de soquinho.
Eu e Kelly somos meio que irmãs mesmo nesse departamento. A gente construiu um relacionamento incrível baseado em olhares de consternação de uma pra outra, que gritam pra todo mundo ouvir um “eu entendo exatamente o que você tá passando agora, guria”. Flávio e Renan são tão parecidos nessa forma livre – e há uma infinidade de outros adjetivos que cabem aqui, vamos ponderar – de levar a vida que às vezes acho que, se eu não tivesse visto os dois juntos no mesmo ambiente tantas vezes, eu teria certeza que são a mesma pessoa.
Contei essa história toda como conto várias das histórias que tenho porque sou casada com o Renan. Histórias que Kelly com certeza tem também, porque é casada com o Flávio. Que todo mundo que é casado com outra pessoa tem porque é casado com outra pessoa. É perigoso, óbvio, deixar a cafeteira ligada num apartamento vazio por doze horas. Deve ser uma conversa séria, essa de desligar a cafeteira. Mas também pode ser leve. Pode virar uma história pra você contar no almoço, num textão (ou em dois, né?).
Esses dias, depois de dividir mais uma dessas histórias, eu ouvi de uma pessoa que ela gostava desse meu jeito de contar as coisas do casamento. “Parece que você fala a verdade sobre como é casar, sabe? Não é historinha de conto de fadas”. Fiquei pensando nisso. Não sei se tá certo. Nem se tá errado. Só sei que é assim que é, na maior parte do tempo, a minha vida depois do sim. As coisas têm mais de uma perspectiva, sabe? Você pode brigar com a pessoa que esqueceu a cafeteira ligada ou você pode fazer um vídeo comemorando que, apesar disso, o apartamento sobreviveu mais um dia. Pode fazer as duas coisas. Ou pode não fazer nada. Não tem só um caminho. Nem há, no fim das contas, resposta certa ou errada. As coisas só são. Só estão sendo.
É por isso que acho, com sinceridade, que se você quiser casar, você deve casar. É uma experiência em construção, esse tal de casamento, porque te dá muitas possibilidades de encarar as mesmas coisas de formas diferentes. Sim, também se ganha essa experiência com uma série de outros relacionamentos, sem dúvidas.
Mas meu ponto é – e sempre foi – o de que não tem casamento perfeito, mesmo quando tem casamento perfeito. E é isso que é incrível.
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