Aviso pra você que caiu aqui nesse texto e não tá entendendo nada desde já.
Eu não tô aqui pra ficar só falando das minhas memórias de Copas do Mundo, embora vá falar exatamente disso nos próximos parágrafos. Também não tô aqui pra ficar só fazendo paralelos super clichês sobre relacionamentos e futebol, embora eu vá fazer exatamente isso nos próximos parágrafos.
Agora que você já tá ciente do que vai acontecer aqui, embora eu tenha negado com veemência que é isso mesmo que vai acontecer aqui, te convido pra continuar a leitura. O que eu – que tenho um claro fraco pelo assunto – posso fazer se o mundo inteiro só vai falar de Copa do Mundo até dia 15 de julho próximo, pelo menos?
A primeira Copa do Mundo de que tenho memória é de 1994. Lembro do gol de falta do Branco nas quartas de final contra a Holanda – e desde lá os gols de falta são meus gols favoritos. Lembro de ter visto aquela final numa TV que teve de apoio improvisado um latão e de comemorar o tetra pelas ruas do centro da cidade em cima da caçamba da caminhonete que meu pai tinha.
Renan não faz questão nenhuma de saber qual é sua primeira memória de Copas do Mundo. Ele não poderia se importar menos com qualquer coisa que envolva essa competição. Ou com qualquer outra que envolva uma porção de gente correndo atrás de uma bola. Renan detesta futebol.
Na Copa de 1998, tinha quase dez anos e já era ridiculamente envolvida com coisas de futebol há muito tempo. Pra ver a final, viajei pela primeira vez de avião. Fui com minha irmã pro Rio de Janeiro. Uns dias antes eu tinha ganhado de presente o brinquedo que era meu maior sonho de consumo naquela época: uma maleta de futebol Gulliver, com suas seleções – Brasil e França – e tava jogando sozinha antes do jogo de verdade começar. Aquela final foi traumática. Perdemos. Feio. E no processo da derrota, meu jogo todo de Gulliver foi pisoteado por adultos desorientados e danificado irreparavelmente para todo sempre.
Se duvidar, Renan nem sequer sabe que a França já sediou uma Copa do Mundo e que fez o que o Brasil, pentacampeão e único país que participou de todas as edições da competição, não conseguiu fazer nas duas oportunidades que teve: ganhou a Copa em casa. Renan jamais deve ter pensado em como deve ter ficado Paris naquele 12 de julho (acabei de pesquisar a data certa).
Não sei se já experimentei, com esporte, emoção maior do que a do dia 30 de junho de 2002 – essa data não precisei pesquisar. Nunca esqueci daquela campanha de sete vitórias em sete jogos que terminou naquela manhã de domingo histórica. Foi logo cedo, então foi um dia que durou muito tempo – talvez como deve ter durado aquele 12 de julho pros franceses quatro anos antes. Até hoje me arrepia pensar naquela Copa.
Eu acho futebol um esporte incrível. Eu amo futebol.
Mas eu não tô aqui pra ficar antagonizando gente que ama e gente que detesta futebol, embora eu tenha feito exatamente isso aí em cima.
Tô aqui pra dizer que Renan, que detesta futebol, sabe mais do que pode imaginar que sabe sobre tática e técnica do esporte bretão, embora não tenha a menor habilidade ou o menor interesse por isso.
É que na nossa casa, a gente sabe – muito melhor do que sabem Messi e Cristiano Ronaldo, com suas dez bolas de ouro somadas aos zero mundiais – que ninguém ganha a Copa do Mundo sozinho.
Na nossa casa, ao melhor estilo família Scolari de 2002, a gente joga em equipe. A gente é um time. Não esses times aí que se desfazem com qualquer confusão de vestiário e passam pela zona mista como se fosse zona de guerra. Não.
A gente é um time que conhece os defeitos e as qualidades de todo mundo que joga ali. Que joga junto. Que volta pra marcar quando perde a bola, avança de tabela pra passar pela defesa adversária. E pra ser time, cada jogador precisa saber sua função no painel tático, conhecer a função do outro caso o jogo mude ali no calor da hora. Pra ser time, precisa saber competir. Saber perder, porque jogo é isso, às vezes a gente perde, mesmo, não importa o quão bem encaixado o time seja. E saber ganhar. Saber comemorar, também, se acontecer de ganhar a final do campeonato mais importante do Mundo.
Na nossa casa, o jogo é jogado e o lambari é pescado – sempre quis usar esse dito popular que descreve uma vitória num texto.
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