Tava na dúvida sobre o que falar aqui nesse mês.
Aí, como uma das promessas dos trinta anos que acabei de fazer é voltar pro Twitter, lancei por lá esse questionamento. Boa ideia. Uma amiga sugeriu a história de como Renan me pediu em casamento, que é ótima. Até poderia ser, pensei. Mas aí pensei de novo. E fiz toda uma outra reflexão.
Quando conto coisas incríveis que Renan faz (e ele faz várias coisas incríveis), as pessoas tendem a supor que nosso casamento é à prova de cagadas. E se surpreendem quando descobrem que eu e ele temos uma vida bastante comum, atrasamos umas contas, brigamos por coisas idiotas, escolhemos ficar em casa vendo seriados no sofá no sábado à noite e às vezes dormimos até tarde no domingo, mesmo se faz muito sol. Nossa vida não é, na maior parte do tempo, instagramável. São só duas pessoas dividindo a vida, e a vida é algo bastante banal.
Eu gosto de fazer esse exercício.
Gosto de pensar que o que faz a vida depois do sim vivível não são as coisas incríveis que acontecem. As coisas incríveis que acontecem – os pedidos de casamento, as cerimônias, os presentes fantásticos – são incríveis para contar. Eu gosto de contar que Renan me pediu em casamento num trailer de cinema, que casamos na Disney, que ganhei um salto de paraquedas de natal uma vez. São ótimas histórias e mostram um pouquinho de como é, pra mim, viver um casamento que é ótimo de ser vivido.
É muito instagramável – e acho que a vida pode ser, sim, instagramável. Não sou uma daquelas pessoas que acha que amor só é amor se não aparece na internet – honestamente, acho esse argumento uma grande bobagem. Acho que amor é amor no feed também. Acho que espalhar amor na timeline alheia é ótimo, que a gente precisa disso em tempos difíceis como esses que vivemos e faço isso com regularidade.
Mas eu gosto também de viver nosso dia a dia, cheio de coisas que não são incríveis. Que são médias, sem graça, até. Ou que são ruins. Nada instagramáveis.
Esses dias tava pendurando a roupa e pensei aquelas coisas catastróficas que eu meio que penso o tempo todo. Pensei que se eu e Renan eventualmente nos separássemos, eu não seria capaz de lavar as roupas de uma outra pessoa. Lavar roupas de outra pessoa é algo que eu considero muito íntimo, particular. Muito representativo de que aquela pessoa tem um papel importante na sua vida. E penso, também, que, quando você escolhe alguém pra dividir a vida e dá a sorte dessa pessoa te escolher junto, você precisa ter momentos de reflexão na lavanderia (se a lavanderia estiver sob sua responsabilidade, como a lá de casa está sob a minha, claro).
Por que você tá lavando as roupas dessa pessoa?
No meu caso, é um pouco porque sou meio obsessiva com ordem de grampos no varal e Renan é um pouco bagunceiro, mas é muito mais porque sei que lavar as roupas do Renan é minha forma de dizer pra ele que tá tudo certo aqui. Que esse casamento tá sendo bom de ser vivido, mesmo quando a gente tá naqueles dias mais banais da existência, em que nada instagramável acontece. E que coisas instagramáveis vão continuar acontecendo e continuar aparecendo no meu feed.
E vez ou outra eu vou vir aqui contar sobre coisas incríveis, sobre o pedido de casamento no trailer de cinema. Mas a vida não é feita só de pedidos de casamento maravilhosos, de presentes fantásticos, de casamentos na Disney. A vida é feita dessas coisas também. É muito legal ter momentos instagramáveis pra colocar no feed.
Uma coisa não invalida a outra.
Quando a gente casou, disse nos meus votos que o que fazia os dias incríveis tão incríveis é que eles aconteciam no meio de dias que eram regulares, apenas bons. Renan discorda dessa ideia e acha que é possível viver uma vida de dias incríveis, um atrás do outro.
Uma forma de ver a vida não invalida a outra.
A gente enxerga a vida de jeitos diferentes, mas consegue encontrar pontos de equilíbrio pelo caminho.
Acho que um casamento bom de ser vivido é feito não de coisas que invalidam umas as outras, mas de coisas que se equilibram, que se completam, que não se excluem. De momentos instagramáveis e de reflexões na lavanderia.
Comment
… adorei !!! Esse TOC de pendurar toupas no varal em ordem alfabética só pode ser GENÉTICO kkkkkkkkkk e nada instagramável né mesmo Martinha ???