Há dois natais, ganhei de Renan um salto de paraquedas.
Renan é desses, né, vocês sabem. Ele gosta de presentear, mas não é só isso. Gosta de proporcionar experiências. Ele tem essa habilidade. Pra ele, é sempre muito fácil escolher presentes. Pra mim, não funciona assim. Sempre em dúvida, eu quase nunca acerto. Tenho dificuldades. Uma parte de mim deseja, às vezes, que Renan erre.
Se ele errasse uma vez, eu não me sentiria tão culpada de errar também. Só que ele nunca erra. E, pra ajudar, faz aniversário uns dias antes do natal e eu preciso sempre pensar em dois presentes incríveis ao invés de apenas um. Daí, porque é meu modo de operar, travo. Passo o ano todo pensando em mil coisas, mas, quando chega perto, nada. Silêncio. Só consigo pensar em relógios. Tenho (muitas) dificuldades.
É que presentear, aparentemente, não é minha língua.
(Há toda uma reflexão aqui sobre o livro As Cinco Linguagens do Amor, de Gary Chapman, mas neste momento eu vou deixar pra lá.)
No dia do salto, um pouco consumida pela minha ansiedade sem limites, ficava pensando no tamanho do erro que era o ato de me jogar de um avião em movimento. Do céu. Em direção à terra. Sem controle nenhum sobre o instrutor, sobre o equipamento, sempre o tempo. Sem controle nenhum de nada.
Naquela hora – enquanto eu praticava quais eram os movimentos que podia e não podia fazer quando pulasse do avião – minha mente estava operando em duas janelas absolutamente opostas. A ideia de que seria incrível – eu sempre quis saltar de paraquedas – e a ideia de que eu iria me jogar de um avião e deixaria minha sobrevivência nas mãos de uma pessoa completamente desconhecida.
Tenho lembrado bastante dessa história do salto nos últimos tempos. Porque, se você parar para pensar bem direitinho, quando você decide dividir a vida com uma outra pessoa, você tá meio que pulando de um avião também. Confiando que aquela pessoa – que em muitos aspectos é uma completa desconhecida (até porque não há meios de conhecer uma outra pessoa por completo) – vai puxar a cordinha e abrir o paraquedas depois dos quarenta e dois segundos de queda livre, pra que vocês dois planem em segurança até o chão. Da mesma forma que essa outra pessoa também tá confiando em você pra fazer a mesma coisa.
Acho que dividir a vida não é só um salto. É um salto por dia. Todo dia você escolhe pular do avião. É um risco. Eletivo.
Costumo dizer que dividir a vida com Renan é uma aventura. É mesmo. Ele é esquecido, espírito livre, não enrosca nas coisas. E também é direto, objetivo, acelerado. Sonhador, planeja dominar o mundo como quem corta um pedaço de papel e sempre diz que tudo vai dar certo. É solucionador. E presenteia bem. Eu não sou nada disso. A gente encara o mundo de uma forma bastante diferente. Adequar nossos equipamentos de salto pra que possamos curtir a queda livre, mas também pousar em segurança no chão, é viver uma aventura. Dá frio na barriga. E às vezes não dá certo. Às vezes a gente se arrebenta no chão, porque são dias e dias.
Só que, nos dias em que dá tudo certo, mano do céu, a vista é linda.
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… minha ídola pra todo sempre❤️??