Renan e eu nos conhecemos no colégio.
Ele jura que foi logo nas duas primeiras semanas de aula do terceiro ano, quando supostamente começou o ano letivo na minha sala. Sempre emenda esse comentário dizendo que eu tava ocupada demais sentada na primeira carteira pra notar o pessoal do fundão.
Mentira.
Mas foi lá, no colégio. Há treze anos. No recreio (#sddsrecreio), que a gente lutava pra chamar de intervalo, como jovens adultos que pensávamos que éramos.
Tínhamos dezesseis anos, uns amigos em comum e nenhum interesse romântico um no outro. Mas fizemos um combinado, preocupados com nosso futuro. Se ainda estivermos solteiros ao vinte e cinco (nove anos, quando você tem dezesseis, parece uma eternidade) a gente casa? Casa. Beleza.
No começo da faculdade, mesmo não fazendo o mesmo curso nem estudando no mesmo período, eu e Renan já nos conhecíamos o suficiente para sermos aquele tipo de amigos – pessoas que estavam sempre nos rolês uma da outra, mesmo que fosse um churras só do pessoal de PP ou um cinema daqueles malas da história.
Anos depois, quando Renan já era meu melhor amigo há muito tempo, a gente lembrou daquele combinado. Lembrou não, foi lembrado. Com um empurrãozinho nem tão sutil de nossos amigos, a gente finalmente se perguntou por que nunca tinha arriscado antes.
A gente.
Sempre quando conto essa história – bem nessa hora, do nosso primeiro beijo – eu falo da minha versão. Pode ser que vocês não tenham notado um probleminha que tenho, mas eu intensifico e problematizo absolutamente tudo. Ter beijado meu melhor amigo, óbvio, passou longe (muito, muito longe) de não receber o raio problematizador fora de controle – ênfase no raio, ênfase no problematizador, ênfase no fora de controle.
Mas tirando esse meu brevíssimo (há controvérsias) momento de surto absoluto de “meldels, será que eu estraguei tudo?”, nossa relação foi construída de uma maneira muito orgânica. Colegas, amigos, melhores amigos, namorados.
O casamento não mudou esse nosso status-apelido, que vem sendo utilizado desde a primeira vez que Renan esqueceu a carteira na minha casa – no primeiro dia do namoro, o que deve ser tipo um recorde mundial. Namorada, eu deixei minha carteira aí?
Quando você imagina uma história assim, de duas pessoas que se conhecem tão bem e a tanto tempo, pode pensar que nada mais vai surpreender nenhuma delas a partir de um determinado ponto.
Mentira.
(Menos a parte de “namorada, eu esqueci minha carteira aí?”, com essa eu não me surpreendo mais, mesmo.)
Na semana passada – envoltos numa conversa profunda sobre o futuro, as oportunidades e o preço da gasolina – eu e Renan nos conhecemos mais uma vez. Sentados no chão do escritório, falamos de coração aberto de nossas ansiedades e de nossos traumas. Falamos coisas que a gente nunca tinha tido oportunidade de falar um pro outro. Falamos dos nossos planos. Dos nossos sonhos. Do nosso futuro. E do nosso presente.
Mas mais que isso. Ouvimos. Foi revelador.
Treze anos depois, e a gente ainda tá se conhecendo. Um pouquinho por dia.
É que se você olhar com atenção suficiente, nunca vai parar de conhecer a pessoa com quem escolhe dividir a vida.
É aterrorizante. E maravilhoso. Ao mesmo tempo. E isso – isso não é mentira.
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Curtindo sempre o que vc escreve. Bj do Rio